quarta-feira, 20 de abril de 2011

Riqueza Perdida - A mesa Judaica-Cristã de Páscoa.

A Riqueza Perdida.

Uma rápida abordagem da mesa judaica-cristã.

Aproxima-se a Páscoa, ou talvez já tenha passado, essa é uma das discussões dos teólogos quanto ao dia de celebração, visto que, João provavelmente usou um calendário mais antigo do que se imagina que ele usou. Ainda temos a interpretação cristã que a páscoa na verdade celebra-se no Domingo – o dia da ressurreição do Messias e conseqüentemente o dia do Senhor e nasce outra discussão da guarnição do sábado ou domingo.

Bem, fica-se aberta tais discussões das quais eu não tenho nenhum interesse em participar quanto a horas, dias e luas, mas algo que precisamos como “cristãos ocidentais” resgatar é a história da nossa fé.

Sem história não há compreensão do processo desencadeador dos eventos presentes, e a nossa história de fé tem como Berço, Mobral, Primeiro e Segundo Grau, Faculdade e Pós a Fé Judaica. Sem medo de exagero, toda formação da Fé se da no mundo judaico, e ecoa pelo helenista, romano e confins, mas aos judeus foram confiados os oráculos de Deus (Rm. 3.2).

Mas a nossa “fé ocidentalizada e cristianizada” nega tais realidades, consciente ou inconscientemente, criando interpretações próprias e heresias sem fim, contudo, não estou dizendo que todo conteúdo da fé que temos é profanizada, ok? Tenho como conceito de profano não apenas algo aderido do mundo pagão, mas conceitos sem conteúdo e conteúdo que ignore o real contexto do texto em questão ou do assunto abordado.

E pior que isso é perder a riqueza do que se é, em função do que se tem, sem questionar se não tem algo além.

Tudo isso para repensar a Riqueza da Páscoa.

Jesus era judeu, para surpresa de muitos, sendo assim, a Páscoa que ordenou que os discípulos preparassem era o Pessach – Páscoa Judaica, portanto, a mesa possui os elementos judaicos e as falas de Jesus repousam sobre tais elementos. A mesa Cristã não conhece a mesa Judaica, só que nenhuma isolada da outra é completa e suficiente em si, a melhor definição é uma mesa Judaico-Cristã.

Todos os elementos da mesa Judaica celebram a Redenção de Deus na história do seu povo, cada elemento, cada detalhe é histórico, mas alguns também tinham o sentido profético que se cumpre em Jesus.

Os evangelistas narram apenas dois dos vários elementos da mesa Judaica, Pão e Vinho, não por desprezam os outros elementos, até porque ao ler algo sobre Pessach já se tinha em mente todos os elementos, mas porque esses elementos, Pão e Vinho, têm seus sentidos amplificados e apropriados pelo Messias.

Interessante pensar na sequência da Seder de Pessach, no que se refere ao ato de Motzi Matzá (levantar os três pães e abençoar para distribuição) e a sequência do cerimonial aonde a metade do segundo matzá (pão) chamado de Aficoman, era escondida, distribuído o outro pedaço para ser comido depois de achado pelas crianças e então se bebe o terceiro cálice de Vinho. São estes atos que os evangelistas focam nas palavras de Jesus Este (pão) é o meu corpo e o meu sangue (cálice de vinho), a uma nova realidade no sacrifício dele[1].

Agora, será que sabemos qual pão foi comido e seu significado? Qual cálice foi bebido e seu significado? Afinal, são três pães e quatro cálices de vinho!

Veja a ordem do Seder de Pessach:

Esta é a ordem a ser seguida no Seder de Pessach:

§ Kadesh (קדש - santificação) - Recitação do kidush e a ingestão do primeiro copo de vinho.

§ Urchatz (ורחץ - lavagem) - Lavagem de mãos.

§ Karpas (כרפס) - Mergulha-se karpas (batata, ou outro vegetal), em água salgada. Recita-se a benção e a karpas é comida em lembrança às lágrimas do sofrimento do povo de Israel .

§ Yachatz (יחץ - divisão da matzá) - A matzá é partida ao meio e embrulha-se o pedaço maior e separando-o de lado para o Afikoman .

§ Maguid (מגיד - conto) - Conta-se a história do êxodo do Egito e sobre a instituição de Pessach.Inclui a recitação das "Quatro perguntas" e bebe-se o segundo copo de vinho.

§ Rachatzá (רחצה - lavagem) - Segunda lavagem de mãos.

§ Motzi Matzá (מוציא מצה)- O chefe da casa ergue os três pedaços de matzá e faz as bençãos das matzot .As matzot são partidas e distribuídas.

§ Maror (מרור -raiz forte) - São comidas as raízes fortes relembrando a escravidão e o sofrimento dos judeus no Egito.

§ Korech (כורך -sanduíche) - Faz-se um sanduíche com a matzá, maror e charosset.

§ Shulchan Orech (שולחן עורך)- É realizada a refeição festiva.

§ Tzafon (צפון - escondido) - Aqui é comida a matzá que havia sido guardada.

§ Barech (ברך - Bircat HaMazon) - É recitada a benção após as refeições.Bebe-se o terceiro copo de vinho.

§ Halel (הלל -louvor) - Salmos e cânticos são recitados. Bebe-se o quarto copo de vinho.

§ Nirtza (נירצה - ser aceito) - Alguns cânticos são entoados e têm-se o costume de finalizar o jantar com os votos de LeShaná HaBa'á B'Yerushalaim - "Ano que vem em Jerusalém" como afirmação de confiança na redenção final do povo judeu[2].

Percebeu três pães e quatro cálices de vinho?

Porque será que são três pães?

Um judeu não messiânico, que ainda não conhece a Jesus, diria que pode ser uma referência aos patriarcas – Abraão, Isaque e Jacó, mas um Judeu Messiânico afirma: É a expressão do Pai, do Filho e do Espírito Santo!

Não entraremos no dogma trinitário que nesse caso mais complica do que explica, apenas na constatação do Pai, Filho e Espírito Santo.

Qual pão é partido ao meio?

O Segundo, conforme mostrado acima. Na ordem batismal[3] e nas bênçãos e saudações apostólicas[4] mostram uma economia da divindade – Pai, Filho e Espírito Santo. Agora, quem foi partido ao meio, moído, por amor a nós? Qual pessoa da divindade? Qual pão foi partido?

Perceba que a metade escondida Hb Tzafun (secreto) Gr. Aficoman (escondido) depois será procurada pelas crianças e aí sim comida. Quando se parte o pão ao meio ele se torna o pão da miséria, da pobreza, incompleto. O aficoman é a metade que quando descoberto há grande júbilo. Quem ainda é “encondido, secreto” para os judeus? Sim, o Messias!

Jesus quando declara – Este é o meu corpo, está relacionando o Segundo Matzá (pão) como sendo um ato profético da história que se cumpri Nele naquele momento. Ele é o pão que vai ser partido e alimentar os seus discípulos. Ele é o Aficoman descoberto, revelado e celebrado! O Pão vivo que desceu do céu representado no pão comido, ou do próprio maná caído do céu no deserto.

LOGO APÓS segundo a Seder de Pessach, toma-se o TERCEIRO CÁLICE, mas será que tinha um sentido cada cálice? Sim, tinha!

Veja Êxodo 6.6-7:

1. E vos «tirarei» de debaixo da carga dos egípcios.

2. E vos «livrarei» da sua servidão.

3. E vos «resgatarei» com braços estendidos e grandes juízos.

4. E vos «tomarei» por meu povo.

Isso não é fantasioso é o contexto judaico da Páscoa, agora, olhe acima e veja qual promessa, parte do versículo, é correspondente ao terceiro cálice.

Exato, terceira parte, que corresponde a resgate que é remissão, o mesmo sentido. O cálice que Jesus toma é logo após o partir do pão, então, é o Terceiro Cálice. Ele diz que esse Cálice é da Nova Aliança para Remissão de Pecados, Resgatar é Remir dos grandes juízos do pecado.

Sendo o terceiro cálice, observe algo interessante, remirei, resgatarei com BRAÇOS ESTENDIDOS, isso nos lembra alguma coisa?

Eu sei que como bom Reformado que você é, ou não, pode se lembrar dos critérios para tipologia. Só é considerada uma tipologia quando se tem símbolo e significado evidente, explicito nos testamentos. Bem, só pra lançar minhoca na sua cabeça e possivelmente revisão de tal ensinamento, temos em 1 Co 10 o citar de uma pedra que seguia o povo no deserto e Paulo interpreta que essa pedra era Cristo, mas em que lugar fala dessa pedra que seguia o povo no deserto? Isso era uma tradição oral presente, assim como a citação de uma profecia referente e interpretada como a estrela seguida pelos magos do oriente. Não tem correspondência no A.T (que gosto mais da nomenclatura de Primeiro Testamento), fora retirada de uma profecia oral entre os Escritos Rabinos – escritos não canonizados e que nem devem ser!

Não estou peregrinando pelo perigo da alegoria alexandrina ou até grega, mas vendo o que um Judeu vê na pessoa do Messias.

Bem, isso foi um pouco da riqueza da mesa JUDAICA-CRISTÃ que devemos celebrar!

Sobre a ressurreição que vai ser aderida ao sentido da Pessach que agora não é restrita ao contexto judeu, mas a todos que estão no messias, a ressurreição vem agregar um sentido mais profundo de libertação, não apenas política e espiritual regional, mas agora Universal.

Mas esse assunto já é falado em um certo nível, mas como seria bom se entender o cordeiro pascal, o osso de cordeiro da mesa pascal, o sangue nos umbrais, isso daria um sentido mais amplo a ressurreição, mas fica pro próximo escrito ou se alguém quiser comentar, fique a vontade!

O blog como disse não é do “ninguém” é do “todomundo”.

Feliz Pessach! Feliz Pascoa!

Por Toni Edson



[1] Veja por exemplo Marcos 14.22

[2] Sim, extraído do sábio Wikipédia, confira a sequência da mesa judaica em http://pt.wikipedia.org/wiki/Pessach

[3] Veja Mateus 28.19.

[4] Veja por exemplo 2 Co 13.14, I Pe 1.2

Um comentário:

  1. Muito lindo! Parabéns Pr Toni.Viajei... rsrsrs

    Como isso é verdade! Quanto perdemos ao sermos superficiais e nos contentarmos com o raso. Precisamos sim repensar, remetermo-nos ao passado, mergulhar de cabeça (cabe-ceando) para saborearmos as maravilhas que Deus disponibilizou para nós.
    É como explorar as profundezas do mar e nos deslumbrarmos com a vida pululante, inundando nossos sentidos com cores, brilhos e formas inauditas.
    Pastor, continue tentando acessar o meu blog, gostaria muito de sua opinião.

    Deus abençoe suas vidas, grande abraço.

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